
Por Roberval Tavares de Souza
A questão das perdas de água no Brasil e no mundo é um tema tratado sempre que temos discussões relacionadas ao Meio Ambiente ou à água propriamente dita. Todos nós, de alguma maneira, temos uma ligação forte com o tema, pois utilizamos este precioso bem todos os dias. E sempre podemos fazer algo para perder menos água. Nossas crianças aprendem todos os dias nas escolas que a água é um bem finito, que a terra só tem 3 % de água doce, mas o que continuamos vendo pelo Brasil afora é um grande desperdício de água, a começar pela ineficiência das concessionárias de saneamento.
A região Sudeste do Brasil e alguns países como o Chile, EUA (Califórnia) e Austrália sentiram de forma muito intensa o problema da falta de água decorrente de eventos climáticos extremos. Nos dois últimos anos. a Região Metropolitana de São Paulo passou pela maior escassez hídrica de sua história e os programas de redução de perdas das concessionárias da RMSP viraram o principal aliado para economizar água.
O setor de saneamento ambiental no Brasil, uma das áreas menos desenvolvidas da infraestrutura nacional, necessita urgentemente de um choque de gestão e de investimentos massivos visando o atendimento à meta de universalização estabelecida no Plano Nacional de Saneamento (PLANSAB). Pelo plano, seriam necessários investimentos de R$ 304 bilhões até 2033 para universalizar os serviços de água tratada, coleta e tratamento de esgoto. Mas em 2015 foram investidos apenas R$ 5,8 bilhões no setor, ou seja, estamos em um ritmo muito aquém do esperado para atingir a meta.
Aliada à deficiência da infraestrutura, temos indicadores de perdas de água pífios, o que piora ainda mais a situação. O último dado do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento – SNIS (2014), do Ministério das Cidades, sobre as perdas de água tratada no Brasil informa que perdemos 37% da água tratada no país. No ranking mundial, o Brasil fica atrás de países como Vietnã (que perde 31%), México (24%), Rússia (23%) e China (22%). Já entre os com menor índice de perda estão Estados Unidos (13%) e Austrália (7%).
Os dados do SNIS também mostram que a Região Norte é a que mais perde água no processo de distribuição. O estado do Amapá, com uma população de 751 mil pessoas, é o campeão nacional de perdas, com índice de 78,2%. Em termos unitários, por ligação ativa à rede de distribuição, o índice de perda é 2.104 litros/ligação x dia.
As perdas também são altas no Nordeste, com 48,4%. O destaque é Sergipe, com 60,2%. A melhor situação é a da Bahia (32,4%). O Sudeste é a região que tem o menor índice de perdas, com 32,6% na média estadual. O Rio de Janeiro é o estado com menos perdas (31,1%), seguido pelo Espírito Santo (32,4%) e São Paulo (33%). As demais regiões apresentam índices próximos ao do Sudeste: Sul (33,4%) e Centro-Oeste (34,2%). O Distrito Federal tem o melhor índice do país (27,1%).
Perdas de água em sistemas de abastecimento estão diretamente relacionadas às condições da infraestrutura instalada e à eficiência operacional e comercial da concessionária que opera o sistema de saneamento do seu município. De maneira objetiva podemos dizer que as perdas nos sistemas de abastecimento correspondem à diferença entre o volume total de água produzido nas estações de tratamento e a soma dos volumes consumidos pelos clientes, que são medidos por meio da leitura mensal dos “relógios” instalados em cada imóvel.
É importante esclarecer que as perdas de água são divididas em duas parcelas: as “perdas reais”, que correspondem aos volumes de água que não são consumidos, por serem perdidos em vazamentos ao longo das tubulações, e as “perdas aparentes”, que se referem aos volumes de água que de alguma forma são consumidos, mas não são medidos pela empresa, como as fraudes (gatos). Portanto, é importante que haja esta diferenciação entre as perdas reais, provocadas por vazamentos, e as aparentes, cujo efeito se dá sobre o faturamento da empresa e não sobre o desperdício de água propriamente dito.
Assim, para reduzir as perdas de água com eficácia e perenidade dos resultados, é de extrema importância um planejamento integrado das ações de combate às perdas reais e aparentes, de curto, médio e longo prazo.
Tudo começa com um bom diagnóstico do sistema de abastecimento, permitindo a identificação dos principais fatores que causam as perdas e possibilitando uma melhor assertividade das ações, com resultados eficazes. Ações como o gerenciamento das pressões no sistema, o controle ativo dos vazamentos, melhoria da infraestrutura instalada, o gerenciamento do parque de relógios e o combate a fraudes são algumas das ações tradicionais para reduzir as perdas de água.
Existem empresas que já estão investindo em modelos do tipo performance, que dão maior agilidade e que comprometem contratante e contratada, não só com a execução dos serviços, mas também com os resultados esperados. Este modelo remunera a contratada pelo resultado gerado em um determinado projeto e não por item executado, ou seja, o resultado é gerado antes e o pagamento da empresa contratada vem depois.
Contudo, além das técnicas apresentadas, sejam as mais tradicionais ou inovadoras, para mudar o cenário atual é necessária uma ação que só os grandes líderes possuem. Estamos falando de ATITUDE! Precisamos de atitude dos gestores públicos e privados para mudar este cenário.
O líder tem que inspirar toda sua força de trabalho e os fornecedores a mudar essa situação que causa tantos prejuízos ao País. O mais poderoso agente de mudança destas empresas é o líder. São eles que podem levar seus profissionais ao sucesso de reduzir as perdas de água a patamares mais aceitáveis. É com o incentivo e o exemplo dos líderes que as pessoas terão vontade de agir para promover as mudanças necessárias. E os ganhos vão muito além do que a recuperação financeira para as próprias empresas, que terão maior disponibilidade de recursos para reinvestir tanto na distribuição como em outras atividades.
Com a redução das perdas de água ganham o Meio Ambiente, a população, parceiros, empresas contratadas e também todos os funcionários. Sim estes últimos são aqueles que, em algum momento, acreditaram em seus líderes, tiveram vontade de mudar a situação e colocaram as mãos na massa em busca de melhores resultados.
Eles terão o orgulho de deixar como legado de seu trabalho uma empresa mais eficiente, que respeita e preserva os recursos naturais e efetivamente colabora para a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Esse é um benefício intangível e que nem toda empresa consegue oferecer aos seus empregados: a satisfação de poder melhorar o mundo.
Roberval Tavares de Souza, engenheiro civil, superintendente da Sabesp – Unidade de Negócios Sul da Diretoria Metropolitana, membro da Diretoria Nacional da ABES e coordenador do Seminário.
PARABÉNS E BOA SORTE NESSA EMPREITADA